Realizar o diagnóstico microscópico das doenças da boca é foco de projeto de extensão

09/09/2021 - 17:16  •  Atualizado 13/09/2021 15:14
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A primeira série de reportagens sobre programas e projetos finalistas do Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina 2020 (evento organizado pela Pró-Reitoria de Extensão – Proex) chega ao fim nesta quinta-feira, 9, apresentando as atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão Anatomia Patológica Bucal. A ação tem como objetivo emitir laudos microscópicos no âmbito do Serviço de Anatomia Patológica (SAP) e promover o diagnóstico definitivo de lesões submetidas à biópsia no Núcleo de Diagnóstico Bucal (NDB), atendendo a pacientes, unidades de saúde de vários municípios capixabas e cirurgiões-dentistas da Ufes e de outras instituições de ensino.

A série apresentou 26 ações extensionistas realizadas nos quatro campi da Ufes (Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; Alegre e São Mateus, no interior do estado), que tiveram suas histórias e atividades contadas no portal da Universidade semanalmente, pelos últimos seis meses. Todas as reportagens produzidas podem ser conferidas ao final do texto.

Laudos

Criado em 2004 e contando, atualmente, com a coordenação da professora Danielle Camisasca, do Departamento de Clínica Odontológica (DCO), o projeto de extensão visa contribuir com a emissão de laudos de anatomia patológica bucal dos espécimes cirúrgicos provenientes de lesões removidas das diversas clínicas do curso de Odontologia, do projeto NDB e de procedência externa. “Nosso intuito é contribuir com o tratamento adequado e precoce das diversas lesões e condições bucais pela eficácia na emissão de laudos, além de realizar estudos e pesquisas de lesões bucais e de doenças sistêmicas com manifestação bucal”, explica a coordenadora.

A equipe de extensionistas é multidisciplinar, formada pelas professoras Liliana Barros e Tânia Velloso (também do DCO), pela bolsista Priscyla Soares, por estudantes de graduação e de pós-graduação dos cursos de saúde da Ufes, técnicos e cirurgiões-dentistas voluntários. As ações promovidas pelo projeto preveem a inclusão de métodos que aprimorem a identificação inicial das lesões que acometem a mucosa bucal. Para tanto, são disponibilizados materiais que podem ser utilizados no ensino e na pesquisa, além de um laboratório para diagnóstico e atuação dos patologistas e estudantes.

Estratégias

Os espécimes cirúrgicos são recebidos no SAP Bucal e processados no Laboratório Multiusuário de Histotécnicas do Departamento de Morfologia. Já os laudos histopatológicos são emitidos pelas professoras de Patologia Oral. As estratégias de ação envolvem macroscopia, inclusão, obtenção de cortes microscópicos, organização dos arquivos de lâminas e laudos, acompanhamento da desmineralização de tecido duro, digitação e entrega dos laudos emitidos para profissionais e pacientes.

Danielle Camisasca explica que a interação do patologista oral com o clínico que realiza o atendimento do paciente permite maior agilidade e precisão na emissão dos laudos, além de fornecer mais segurança ao clínico no planejamento cirúrgico e consequente tratamento precoce do doente. “Espera-se, com o projeto, desenvolver a filosofia preventiva na formação acadêmica dos estudantes e aumentar os índices de diagnóstico das lesões de boca junto à comunidade, especialmente lesões precursoras de câncer. Desta forma, atua-se na prevenção e no diagnóstico precoce, bem como no tratamento e acompanhamento, gerando impacto na saúde bucal dos indivíduos envolvidos, com promoção de saúde como um todo”, diz.

Segundo as diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, a identificação precoce das lesões deve ser priorizada para garantir o atendimento integral na rede assistencial, visando ao acompanhamento e ao encaminhamento para tratar os níveis de maior complexidade. Danielle Camisasca diz que as doenças da boca (de origem biológica, tumoral benigna ou maligna, autoimune ou cística) representam uma parcela considerável das lesões nas clínicas de diagnóstico bucal, requerendo profissionais capacitados para identificação e realização de biópsias e exames complementares para o diagnóstico final.

Encaminhamento

Pacientes com diagnóstico de lesões benignas são tratados e acompanhados na Clínica de Estomatologia, de Cirurgia Bucomaxilofacial I e II, na Clínica Integrada Infantil e em outras Clínicas Integradas (em atividades previstas no conteúdo programático dessas disciplinas) e no hospital referenciado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

Já aqueles diagnosticados com lesões malignas são encaminhados à equipe inter e multidisciplinar, que envolve ambulatórios médicos e odontológicos, além de ambulatórios clínicos dos cursos de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Terapia Ocupacional e Farmácia, e outros projetos de extensão reabilitadores pertencentes ao Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes.

Casos em que são necessários procedimentos auxiliares que contribuam com o diagnóstico (como imunohistoquímica) são encaminhados para o setor de Patologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes), que os envia ao laboratório Bacchi (Botucatu, SP), conveniado da Ufes. “Desta forma, o projeto Anatomia Patológica Bucal contribui ainda com estudos epidemiológicos e laboratoriais pelo registro dos laudos e arquivos de lâminas e respectivos blocos”, analisa Danielle Camisasca.

Ela explica que, em alguns casos, mesmo com a associação de informações clínicas e histopatológicas, não é possível estabelecer um diagnóstico final e tais lesões são liberadas como descritivas (o que já ocorreu em 31 laudos): “Nesses casos, informações são solicitadas ao clínico para que ele faça a correlação clínico-patológica e decida se é necessária nova biópsia ou outros tipos de exames complementares, como sorológicos e de imagem”.

Dados

Dos laudos emitidos entre o segundo semestre de 2019 e o primeiro de 2020, 22 eram de lesões malignas, principalmente carcinoma de células escamosas; 36, de desordens com potencial de malignização; e 19, lesões císticas odontogênicas, não odontogênicas, inflamatórias e de desenvolvimento. Das lesões do tecido duro, que são submetidas à descalcificação para posterior análise, houve nove espécimes.

No mesmo período, o projeto emitiu 290 laudos histopatológicos, dos quais 161 foram de espécimes de pacientes atendidos pela disciplina de Cirurgia Bucomaxilofacial I e II e de outros setores da Ufes; 96 vindos de instituições externas, como o Centro Universitário Faesa, o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória e a Escola Superior São Francisco de Assis (em Santa Teresa, interior do estado); e 33 recebidos de cirurgiões-dentistas.

Desde 2019, o projeto utiliza o software SAB – Sistema de Análise Bucal, que foi desenvolvido em parceria com o Laboratório de Computação Inspirada na Natureza (Labcin/Ufes). A ferramenta informatizou o cadastro de lesões recebidas, diminuindo o tempo de emissão dos laudos e fornecendo um banco de dados para pesquisas futuras.

Pandemia

Durante a pandemia de covid-19, o projeto de extensão tem funcionado de maneira limitada, com redução de emissão de laudos e suspensão do recebimento de amostras de biópsia para processamento e análise histopatológica. “Seguimos orientando os profissionais que nos procuram, nos dedicando a atividades internas, de organização do sistema de dados para emissão de laudos e à parte acadêmico-científica, com apresentação de painéis, resumos publicados em anais e redação de artigos científicos”, explica Danielle Camisasca.

A partir de setembro de 2020, quando teve início o ensino híbrido para os cursos da área de saúde da Ufes, o Laboratório Multiusuário de Histotécnicas retomou suas atividades, assim como algumas clínicas do curso de Odontologia, o que possibilitou o retorno das ações do projeto em sua totalidade. “Atualmente, já estamos com o triplo do número de espécimes recebidos em 2020”, ressalta a coordenadora.

A professora destaca que o diagnóstico é um importante passo na prática clínica e na vivência dos estudantes: “O diagnóstico correto e definitivo das doenças da boca contribui para o tratamento adequado e melhora da qualidade de vida do paciente. O nosso serviço funciona como um importante suporte ao cirurgião-dentista que se dedica ao atendimento dos pacientes com lesões de boca”.

Prêmio Maria Filina 2021

Já estão abertas as inscrições para que os coordenadores de programas e projetos de extensão ativos e desenvolvidos no âmbito da Ufes inscrevam suas atividades no Prêmio Maria Filina de Mérito Extensionista 2021. As ações devem ter sido executadas entre julho de 2020 e agosto deste ano. Todos os projetos que contam com bolsa de extensão (Pibiex) devem se inscrever no concurso. Aos demais, a participação é facultativa.

As inscrições se encerram no dia 20 de setembro. Mais informações podem ser obtidas aqui.


Conheça todos os programas e projetos apresentados na série:

Projeto Solares leva informação sobre energia solar para a sociedade
Projeto propõe práticas pedagógicas para alunos de comunidades tradicionais
Projeto de extensão promove educação alimentar e nutricional no campus de Maruípe
Projeto de extensão promove saúde integral de adolescentes em Jesus de Nazareth
Projeto cria modelos de biscuit para auxiliar professores de Ciências e Biologia
Projeto de extensão cuida da saúde nutricional de idosos acolhidos em Alegre
Programa de extensão busca difundir e popularizar o saber científico entre estudantes
Projeto de extensão promove educação científica por meio de práticas experimentais
Projeto produz vídeos tutoriais para auxiliar educadores e estudantes no ensino remoto
Projeto promove aconselhamento em centro de testagem de ISTs em São Mateus
Projeto oferece atenção nutricional para mulheres dependentes químicas em Alegre
Projeto de extensão utiliza jogos lúdicos como instrumentos de ensino de Ciências e Biologia
Projeto de extensão apresenta a cultura do norte capixaba em enciclopédias
Projeto orienta sobre doação de leite materno durante a pandemia
Projeto de extensão divulga patrimônio geológico do único museu de história natural do ES
Ação extensionista auxilia na reabilitação de pacientes com sequelas de queimaduras
Projeto de extensão Brinquedoteca ajuda no processo de inclusão de crianças 
Projeto presta assistência à saúde mental para pessoas privadas de liberdade em São Mateus
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Cerca de 2 mil mães e crianças são atendidas em projeto que incentiva a amamentação
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Pessoas com sobrepeso ou obesidade têm atendimento nutricional em projeto de extensão
Programa de extensão promove tratamento humanizado a pessoas com sofrimento psíquico
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Projeto no Museu de Ciências da Vida orienta crianças e jovens sobre o uso de fármacos


Texto: Adriana Damasceno
Imagens: Divulgação do projeto
Edição: Thereza Marinho