Palestra discute assédio moral e propõe mudança de cultura: “Que o assédio não tenha vez”

26/05/2023 - 16:08  •  Atualizado 29/05/2023 16:08
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Construir uma cultura universitária de confiança, cooperação, respeito às diferenças e acolhimento. Entre outras reflexões e proposições, um chamado à mudança de cultura nos ambientes de ensino e de trabalho foi o cerne da palestra Uma conversa sobre assédio moral e outras violências psicológicas na Universidade, ministrada pela psicóloga do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Kátia de Lima (foto), na quinta-feira, 25, no Teatro Universitário.

Direcionado à comunidade universitária, o evento foi coordenado pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) e integrou as comemorações dos 69 anos da Ufes, contando com a presença do reitor Paulo Vargas, de servidores da Ufes, do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes) e do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), além de estudantes. Servidores dos campi de Alegre e São Mateus e o público externo puderam acompanhar a palestra por meio do canal Ufes Oficial no YouTube. Nesta sexta-feira, 26, a psicóloga também ministrou uma palestra dirigida aos gestores da Universidade.

Na abertura da palestra, o reitor Paulo Vargas salientou o dever coletivo dos “membros ativos da sociedade” no combate ao assédio moral.

“Essa palestra é parte essencial das estratégias de prevenção e intervenção contra o assédio moral e outras violências psicológicas, pois influencia diretamente na cultura institucional. Defendemos, na nossa Universidade, uma cultura que promove valores como respeito, colaboração, comunicação aberta e igualdade, circunstâncias nas quais é mais provável que o assédio moral seja reduzido”, afirmou Vargas (foto).

Conflitos

Kátia de Lima iniciou sua apresentação falando sobre os conflitos que podem surgir em um grupo de pessoas quando as diferenças são acentuadas. “Vivemos um momento em que as diferenças estão ficando mais aparentes, porque estamos convivendo mais, falando mais. Pessoas diferentes no ritmo de produção, no pensamento, nos valores. Junto com essas diferenças, pode vir a intolerância. Porque nem sempre é fácil lidar com pessoas tão diferentes”, disse.

Desse contexto surgem os conflitos, que nem sempre são negativos, segundo a psicóloga. “Onde tem interação, tem conflito. Divergir não é problema. Isso também é saudável, daí pode sair união”, afirmou. O conflito mais sério, disse Lima, é interpessoal, porque surge da subjetividade. “Não preciso gostar de todo mundo. Mas a questão fica séria quando essa parte interpessoal prevalece nas equipes, porque começamos a não conseguir gerenciar esse conflito. Começam as ironias, os deboches”, disse.

Evoluído, o conflito pode se tornar assédio moral. Mas o assédio, segundo Lima, se caracteriza por ser um processo contínuo e reiterado, que se desenvolve até se tornar abusivo, atentando contra a dignidade do trabalhador e degradando as relações no ambiente. Ela citou como exemplos de assédio moral a exigência de cumprimento de tarefas desnecessárias ou exageradas, isolamento do grupo, silenciamento. No entanto, há muitos comportamentos que não são considerados assédio, embora sejam violentos.

“Há coisas que nem nome têm, mas são violentas e adoecem as pessoas”, disse Lima. Por ser uma violência emocional, a comprovação dos atos pode ser difícil. O cenário fica ainda mais complexo quando se fala do Brasil, segundo a psicóloga. “As pesquisas mostram que o assédio moral no Brasil é muito sutil, às vezes não verbal, mas nem por isso menos adoecedor. Dificilmente você vai ter uma pessoa no Whatsapp enviando várias mensagens humilhando a outra. O mito da nossa união é histórico”, explicou. Ela afirmou que olhares, piadas e constrangimentos podem ser suficientes para que uma pessoa sofra e adoeça.

Mudança de cultura

Para Kátia de Lima, é necessário “criar uma cultura em que o assédio não tenha vez”. Como o assédio moral tem como base a validação do grupo, o caminho é construir uma cultura de confiança e acolhimento no ambiente de trabalho. “Como grupo, temos que começar a não validar situações violentas”, disse. Um exemplo é a comunicação, que na cultura brasileira costuma se manifestar por vias tortas: “Desde pequeno, somos ensinados a falar das pessoas, e não para as pessoas. Quando algo estiver incomodando, temos que aprender a falar”.

No fim da palestra, Lima deixou orientações para as pessoas que estão vivenciando situações de assédio moral: buscar ajuda de pessoas de confiança; buscar apoio psicológico ou psiquiátrico; guardar provas e solicitar atenção de testemunhas; proteger-se, solicitando mudança de lotação ou presença do grupo, por exemplo; recorrer às vias administrativas do local de trabalho; e, caso o problema não se solucione, procurar a Justiça.

 

Texto: Leandro Reis
Fotos e edição: Thereza Marinho