Um glossário em Língua Brasileira de Sinais (Libras) que conecta ensino, saúde e inclusão. Assim pode ser descrito o projeto Glossário de Termos Médico-Hospitalares em Libras, desenvolvido por estudantes do bacharelado em Letras-Libras como resultado de um trabalho acadêmico conduzido dentro da disciplina Interpretação Médica. O material reúne sinais relacionados a doenças e termos médico-hospitalares e é destinado a qualificar o atendimento de pessoas surdas na área de saúde.
O glossário foi produzido a partir da análise da websérie capixaba Raros, que acompanha a rotina de pessoas que convivem com doenças raras. O trabalho se consolidou como um recurso de acessibilidade que ampliou o impacto da obra, contribuindo diretamente para sua seleção na 11ª edição do Rio Webfest, maior festival internacional de webséries do mundo, que começa nesta sexta-feira, dia 28, no Rio de Janeiro.
A iniciativa partiu da atual responsável pela disciplina, a professora do Departamento de Letras Cláudia Vieira, que identificou na websérie uma oportunidade pedagógica de aprofundar o estudo da linguagem da saúde dentro da Universidade, conectando o ambiente acadêmico à realidade de pacientes e profissionais. Para garantir precisão terminológica e coerência cultural, os grupos de estudantes realizaram entrevistas com membros da comunidade surda capixaba, que contribuíram com sugestões de sinais, percepções sobre os temas e possibilidades de ajustes linguísticos.
“O resultado é um material que registra sinais e termos médicos relevantes no contexto hospitalar. O glossário se consolidou como um registro acadêmico de apoio à formação em Interpretação Médica em Libras e como instrumento de acessibilidade para o público surdo nas discussões sobre doenças raras”, avalia Vieira. Segundo ela, o glossário está disponível em vídeo, mas há possibilidade de convertê-lo em arquivo textual.
Websérie
Gravada no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam/Ufes), na Santa Casa de Misericórdia de Vitória e na residência dos entrevistados, a websérie conta com três episódios em formato de documentário curto e linguagem híbrida, com traços poéticos e de autoficção.
A obra aborda os desafios enfrentados por pessoas com doenças raras, revelando os entraves no acesso ao tratamento multidisciplinar, as dificuldades de diagnóstico e a dedicação de profissionais da saúde que atuam nessa área. Cada episódio é conduzido por um personagem-guia que convive com uma doença rara e relata a diferença marcante entre o longo período de busca por diagnóstico e o início efetivo do tratamento. Produzida ao longo de dois anos (entre captação de recursos, pré-produção, filmagem, pós-produção, divulgação e distribuição), a websérie conta com uma equipe formada majoritariamente por mulheres, muitas delas formadas no curso de Cinema e Audiovisual da Ufes.
A seleção de Raros ocorreu em meio a um processo competitivo do qual participaram produções de diversas partes do mundo. O festival reúne representantes de plataformas de streaming, canais abertos e financiadores internacionais e também tem como finalidade aproximar criadores de possíveis parceiros e recursos. “Se o networking der certo, poderemos captar recursos para produzir novos episódios”, afirma a diretora da série, Thaís Helena Leite. Egressa da primeira turma do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade, ela destaca que o glossário se tornou um diferencial inesperado: “Ele está sendo visto como um elemento adicional que ninguém havia considerado – um efeito da distribuição de impacto da websérie, servindo de exemplo para novas produções. O festival quer reverberar esse resultado”.
Segundo a professora Vieira, o Espírito Santo é referência nacional no atendimento e tratamento de doenças raras. Ela vê em Raros e no Glossário de Termos Médico-Hospitalares em Libras um encontro entre ciência, sensibilidade, formação universitária e inclusão. “A websérie produzida no hospital universitário da Ufes evidencia o compromisso da instituição com a pesquisa, a assistência e a divulgação científica. E a iniciativa do glossário fortalece a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes surdos, ao mesmo tempo em que projeta a produção audiovisual capixaba no cenário internacional, dando visibilidade a histórias reais e a um trabalho construído dentro da universidade, com impacto social direto”, conclui.
Imagens: Freepik e Glossário de Termos Médico-Hospitalares em Libras
Universidade Federal do Espírito Santo