Campus de Goiabeiras recebe manifestação antirracista e festival de cultura negra nesta quinta-feira, 20

18/11/2025 - 19:44  •  Atualizado 21/11/2025 09:34
Texto: Leandro Reis     Edição: Thereza Marinho
Compartilhe
Cartaz de divulgação do festival de cultura negra

A Ufes se transforma em ponto de encontro da luta antirracista ao receber, nesta quinta-feira, 20, a 18ª Marcha Estadual contra o Extermínio da Juventude Negra. Partindo da praça de Itararé, às 15h30, a Marcha se dirige ao campus de Goiabeiras, onde acontecerá, a partir das 18h30, o V Festival de Cultura Negra, com diversas apresentações musicais gratuitas. O evento marca o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

Organizada pelo Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), a Marcha conta, desde a sua elaboração, com representantes de diversos movimentos sociais, coletivos e autoridades públicas locais. O evento também tem apoio institucional da Ufes, “espaço público de produção de conhecimento, formação crítica e de defesa da democracia”, segundo a vice-reitora da Universidade, Sonia Lopes.

“Quando a Marcha ocupa a Universidade, reafirmamos que este espaço pertence também, e sobretudo, àqueles que historicamente foram excluídos dele. A presença da Marcha em nosso campus rompe silêncios, fortalece o diálogo entre saber acadêmico e saber comunitário e reafirma que a luta contra o racismo deve atravessar todas as dimensões da vida acadêmica.”, afirma Lopes, lembrando o compromisso da Ufes de promover a igualdade racial, a diversidade e o diálogo com movimentos sociais. “É uma ação de elevada relevância social, política e cultural”, diz.

Feminicídio e extermínio

A Marcha traz neste ano o tema O silêncio que grita, denunciando os altos números de feminicídio e violências contra as mulheres, sobretudo negras, no Espírito Santo. A pauta desta edição ainda faz referência ao novo disco da cantora e rapper paulistana Negra Li, figura importante na luta pelas vozes das mulheres negras.

“O Espírito Santo está em sexto lugar no ranking nacional de feminicídios (taxa de 1,94 por cem mil habitantes), uma média superior à média brasileira (1,34)”, aponta Emanuella Gonçalo, presidenta do Fejunes.

“Quando a gente vai ver quem são essas mulheres mortas, a grande maioria é de mulheres negras. O extermínio é interseccional, porque são várias violências que perpassam os nossos corpos: sexismo, classismo, racismo. Há uma tentativa de silenciamento dessas vozes, que estão gritando o tempo todo. Exigimos o fim das violências e a afirmação dos direitos das mulheres negras de existir, sonhar, viver com liberdade e segurança”, afirma Gonçalo.

Além do tema central, a Marcha busca combater a “sistematização de violências” que compõem o extermínio da juventude negra, “seja pela falta de emprego, a violência policial, a pobreza, a questão alimentícia”, entre outras variáveis, segundo a presidente do Fejunes.

O secretário executivo do Fórum, Filipe Lima, destaca o ciclo do extermínio contra jovens negros e negras, que tem como ponto final a letalidade policial. “O extermínio começa nas violências obstétricas contra mulheres negras, na ausência de uma educação de qualidade para crianças e jovens, no acesso precário à saúde, e se soma à falta de oportunidades ou à precarização do mercado de trabalho para a população negra”, afirma.

Festival

Na chegada ao campus de Goiabeiras, o público da Marcha será recebido pelo Bloco Coisa de Negres, primeira atração musical do V Festival de Cultura Negra, que acontecerá em frente ao Teatro Universitário. O evento terá, ainda, batalha de rima, DJ XSL e Vogue Night com Casa de Lacraia. Toda a programação é gratuita.

Para o secretário executivo do Fejunes, a realização do Festival e o apoio da Ufes à Marcha marca um momento histórico na luta antirracista capixaba, na medida em que reforça o compromisso da Universidade no combate ao racismo.

“A Universidade, historicamente, constituiu-se como um espaço de elite e majoritariamente branco. Nos últimos anos, vemos uma mudança radical nos rostos e no público ingressante no ensino superior com as políticas de cotas e essa parceria, sem dúvida, contribui positivamente nesse processo. Demonstra que vivemos um novo momento e aponta para um futuro de Brasil mais justo e com menores índices de desigualdades”, opina Lima.

Categorias relacionadas