Jornada de Extensão apresenta projetos que atuam para melhoria da saúde mental

01/12/2021 - 18:15  •  Atualizado 02/12/2021 18:22
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A mesa-redonda Contribuições da extensão para a promoção da Saúde Mental da população, realizada dentro da Jornada de Extensão e Cultura durante a Semana do Conhecimento da Ufes, trouxe ao debate três programas desenvolvidos na Universidade. Um deles funciona há 37 anos e foi idealizado pela professora de Psicologia Tânia Prates, já tendo passado por várias fases. Trata-se do programa Cada Doido com sua Mania, que dá atendimento psicológico a pessoas com transtornos mentais.

De acordo com a professora Lilian Margotto, do Departamento de Psicologia, as primeiras normatizações sobre o que era então chamado de “loucura” surgiram no Brasil no Código Criminal do Império, de 1830, que mencionava “os loucos de todo gênero”. No decorrer dos anos, a legislação sobre o tema caminhou para um modelo de tratamento baseado em internações e restrição de direitos de forma ampla para os considerados "desajustados" da sociedade. 

Em 1989, a legislação foi alterada e passou a estabelecer a extinção progressiva dos manicômios. Mas apenas em 2001 a Lei 10.216 passou a dispor sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redirecionou o modelo assistencial de saúde mental. 

“A primeira proposta do programa Cada Doido com sua Mania foi em 1984, época em que ainda não vigorava política de saúde mental em termos oficiais. A professora Tânia Prates teve essa sensibilidade num momento em que não havia lei que protegesse essas pessoas, que não havia nenhum tipo de amparo por parte do Estado”, afirma Lilian Margotto.

Segundo ela, a intervenção nessa primeira fase do programa era direcionada a grupos operativos constituídos por pacientes de ambos os sexos que eram internos do antigo hospital psiquiátrico Adauto Botelho, na Grande Vitória. As tarefas propostas pelos terapeutas envolviam desenhos, colagem, canto, pinturas, entre outras. O objetivo era criar “um espaço de expressão de sentimentos e angústias”, explica Lilian Margotto.

Um segundo grupo era voltado para os familiares desses internos, um trabalho pioneiro já antecipando a política de desospitalização dos pacientes. A psicóloga conta que "o propósito era aproximar os internados das suas famílias e auxiliar o restabelecimento de vínculos para favorecer o processo de alta hospitalar”.

Na atualidade, o programa faz atendimento à comunidade de modo geral, com oficinas terapêuticas direcionadas a crianças, adolescentes e adultos, bem como serviço de atendimento individual e familiar. Segundo Margotto, o programa atende sobretudo famílias de baixa renda da região metropolitana de Vitória.

Práticas integrativas

A professora Priscilla Silva, do Departamento de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes, foi a segunda expositora da mesa-redonda e apresentou o projeto Práticas Integrativas e Complementares (PICsUfes). Segundo ela, entende-se por PICs as práticas que "buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”. Acupuntura, homeopatia, fitoterapia, termalismo social/crenoterapia, práticas corporais e meditativas como tai chi chuan, lian gong e yoga estão entre as PICs.

"Essas práticas não substituem nenhum tratamento convencional da medicina ocidental", alerta Priscilla Silva. “São tratamentos complementares que têm o objetivo de trazer o bem-estar global do indivíduo”. De acordo com a pesquisadora, o mapa de evidências e estudos científicos sobre essas práticas permitem verificar as intervenções, seus resultados e afirmar a confiabilidade das aplicações, inclusive nos casos de saúde mental. “Há evidências de forte valor científico de uso de acupuntura e auriculoterapia para processos de adoecimento ou sofrimento mental causados por depressão e ansiedade”, afirmou. 

O grupo da Ufes trabalha com atividades de extensão, publicação em livros, reuniões científicas, além de manter um blog informativo.

DignaMente

A última apresentação foi sobre o projeto DignaMente: promoção de saúde e prevenção de maiores agravos através de oficinas terapêuticas às pessoas privadas de liberdade, realizado no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Mateus. “As pessoas privadas de liberdade não estão privadas da sua dignidade e de outros direitos sociais”, afirmou a professora Heletícia Galavote, do Departamento de Enfermagem do Centro Universitário Norte do Espírito Santos (Ceunes) e coordenadora do DignaMente. Daí a ideia do projeto, que pretende resgatar a autoestima e melhorar as condições de vida no presídio. 

A professora explicou que o transtorno mental é o problema mais frequente no sistema prisional. Dentre os fatores para o desenvolvimento de psicopatologias, estão as estruturas arquitetônicas inadequadas, má alimentação e sedentarismo, falta de higiene, atmosfera opressiva e superlotação. Para se ter uma ideia da situação, o Centro de Detenção de São Mateus tem capacidade para 396 internos, mas hoje abriga 529, ou seja, 33,5% a mais do que deveria.

O projeto oferece oficinas de expressão verbal e plástica, de educação em saúde, de práticas integrativas complementares e de expressão musical, entre outras. 

A Semana do Conhecimento é organizada pelo Gabinete da Reitoria da Ufes, em parceria com as pró-reitorias de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), de Extensão (Proex), de Graduação (Prograd) e de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci); com os coordenadores de curso que organizam a Mostra de Ciências e a Mostra de Profissões; com a Superintendência de Comunicação (Supec); com as secretaria de Cultura (Secult) e de Relações Internacionais (SRI); e com a Biblioteca Central (BC). A participação é gratuita, e as informações da programação de lives e os vídeos estão disponíveis em scufes.org.

Além do financiamento da própria Universidade, eventos da Semana do Conhecimento da Ufes contam com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


Texto: Sueli de Freitas
Edição: Thereza Marinho