Estudos mostram benefícios do kefir para o bom funcionamento dos rins e do coração

14/10/2020 - 18:27  •  Atualizado 28/10/2020 18:47
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Pesquisas desenvolvidas na Ufes sobre os benefícios do kefir no tratamento de doenças estudam os efeitos benéficos do probiótico sobre a lesão renal aguda e no sistema nervoso que controla o coração.

Os probióticos são microrganismos vivos encontrados em alimentos que contribuem para reforçar a microbiota, antes também conhecida como flora intestinal. O intestino humano possui trilhões de bactérias que atuam em benefício da saúde: facilitam a digestão e a absorção de nutrientes, fortalecem o sistema imunológico e previnem ou melhoram doenças.

Apesar da sua importância, os probióticos foram esquecidos por um tempo. Segundo o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas (PPGCF) da Ufes Elisardo Vasquez, somente nas últimas duas décadas é que os pesquisadores começaram a valorizá-los.

O kefir passou a ser o probiótico mais utilizado em pesquisas nos últimos anos e tem ganhado protagonismo entre os alimentos funcionais. Originado nas montanhas do Cáucaso, na Europa, também conhecido como grão do profeta Maomé, é composto de bactérias ácido-lácticas, bactérias ácido-acéticas e leveduras. Na presença do grão, produz-se um leite integral fermentado que, ao ser consumido, exerce ações anti-inflamatórias e antimicrobianas. 

Funcionamento dos rins

Estudar os efeitos do kefir em doenças renais foi o objeto de pesquisa de doutorado de Jamila Barboza, orientada pela professora do PPGCF Ágata Gava. A lesão renal aguda, que consiste na perda súbita da capacidade dos rins de filtrar resíduos, sais e líquidos, afeta milhares de brasileiros. Só no Centro de Diálise do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes) são realizados 450 procedimentos por mês.

“Existe um processo intestinal conhecido como disbiose, no qual há um desequilíbrio entre as bactérias ‘boas’ e ‘ruins’ do trato gastrointestinal. Essa disbiose parece estar envolvida no desenvolvimento de diversas doenças, de diferentes sistemas, inclusive o cardiovascular e o renal”, explica a professora. Ela acrescenta que o kefir é capaz de reestabelecer esse equilíbrio, favorecendo a cura por reduzir os radicais livres, cujo excesso está ligado ao desenvolvimento de doenças.

O estudo, realizado em ratos Wistar machos, também mostrou o auxílio do kefir na diminuição de elementos que prejudicam o funcionamento dos rins. “Os ânions superóxidos e o óxido nítrico, em quantidade anormal, são maléficos para o funcionamento do organismo. O óxido nítrico, em níveis normais, desempenha um papel importante na regulação do fluxo sanguíneo dos rins”, explica a professora. O uso do kefir auxiliou na redução dessas espécies que reagem facilmente com oxigênio e que são um dos fatores desencadeadores da apoptose, processo no qual a célula “se mata”, o que leva à conclusão de que o kefir contribui para melhorar a função renal.

Conheça os detalhes da pesquisa no site da Revista Universidade: revistauniversidade.ufes.br

Impactos na tensão arterial

Outra pesquisa realizada na Ufes relacionada ao kefir é a avaliação do tratamento crônico com esse probiótico sobre o tônus do sistema nervoso autônomo que controla o coração, e seus benefícios a pacientes com hipertensão arterial. Em condições normais, o coração é freado para bater mais lento e com menos força, mas, na hipertensão arterial, a predominância é a aceleração do ritmo e o aumento da força contrátil, denominada disautonomia cardíaca.

O tema foi tese de doutorado de Brunella Klippel, orientada pelo professor do PPGCF Elisardo Vasquez. “O número de pessoas hipertensas no Brasil vem aumentando, visto o estilo de vida cada vez mais estressante e corrido, por isso a necessidade desse estudo”, indica. “Esta foi a primeira pesquisa a mostrar que o kefir, agindo na microbiota intestinal, tem ação benéfica no sistema nervoso que controla nosso coração”, completa Vasquez.

Os testes realizados em roedores demonstraram a eficácia do uso do probiótico: os animais que consumiram kefir obtiveram a diminuição da pressão arterial e a correção das disfunções neural e cardíaca. O reflexo de bradicardia (diminuição da frequência cardíaca) obteve melhora de 40% e o de taquicardia (aumento), 38%. Ambos também decaíram no descontrole da função cardiovascular em, respectivamente, 35% e 32%. 

Outra melhora foi observada no barorreflexo, ação de manutenção da pressão arterial, a qual garante variações internas e externas: entre aqueles que não consumiram kefir, o índice foi 50% menor do que o dos que consumiram. O mesmo resultado foi obtido em relação à chegada do sangue ao coração e à contribuição do sistema simpático cardíaco, responsável por diversas atividades, como aumento de batimentos cardíacos e constrição de vasos sanguíneos, entre outras. O grupo também apresentou diminuição na pressão arterial sistólica, diastólica e média, além da diminuição da hipertrofia cardíaca.

Conheça os detalhes da pesquisa no site da Revista Universidade: revistauniversidade.ufes.br

Além desse estudo na área dos probióticos, o professor Elisardo Vasquez participou de uma pesquisa colaborativa entre a Ufes e a Universidade de Vila Velha (UVV), na qual foi verificado que o kefir melhora a memória de pessoas com Alzheimer. Ele está participando, atualmente, de um estudo sobre o uso do kefir na periodontite. Todas essas pesquisas foram feitas em ratos. No momento, há planos de testar em humanos somente a que trata sobre kefir e problemas cardíacos.


Texto: Mikaella Mozer (bolsista de projeto de Comunicação)
Imagem: Flickr
Edição: Lidia Neves e Thereza Marinho