Estudo com tomografia realizado no Espírito Santo ajuda a entender a covid-19 

25/01/2022 - 17:24  •  Atualizado 27/01/2022 21:24
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Em estudo realizado a partir de tomografias computadorizadas de tórax de 453 pacientes com covid-19 internados no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes) e no Hospital Estadual Jayme Santos Neves, pesquisadores das duas unidades hospitalares relataram achados importantes que estão publicados em artigo na revista da Associação Médica Brasileira. “Esse estudo é uma das maiores casuísticas nacionais sobre o tema”, afirmou Marcos Rosa Júnior, professor do Departamento de Clínica Médica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes e um dos autores do artigo. 

Um desses achados diz respeito à presença de pneumomediastino em seis pacientes, sendo que cinco deles faleceram. O professor Rosa explica que o pneumomediastino significa ar no mediastino, ou seja, fora dos alvéolos pulmonares, o que não é normal. “A cavidade mediastinal não é para ter ar, quando isso acontece, é sinal de gravidade”, afirma. 

Nas imagens tomográficas, o vidro fosco foi o principal achado encontrado, presente em 92,5% dos pacientes, seguido de consolidação, em 79%. O chamado vidro fosco é uma imagem esbranquiçada do pulmão, revelando que material inflamatório está preenchendo parcialmente os alvéolos. “Fica mais atenuante, mais branco, isso sem apagar as marcas vasculares. Já a consolidação ocorre quando a quantidade de material inflamatório preenchendo os alvéolos é maior. Então a imagem fica mais branca, apagando as marcas vasculares”, conta o professor Rosa. 

Na imagem, o lado A mostra opacidades com atenuação em vidro fosco. O lado B, consolidação difusa.

Mortalidade

O estudo também buscou identificar os achados de imagem associados à mortalidade dos pacientes com covid-19. Se na população em geral a mortalidade relacionada à doença é em torno de 2%, considerando a população internada por covid estudada nos hospitais do estado, o percentual sobe para 30%, ou seja, dentre os 453 acompanhados no estudo, 136 faleceram. 

Nesses pacientes, o padrão em vidro fosco também foi o achado mais encontrado (94%) na tomografia de tórax, seguido de consolidação (89%). A porcentagem de acometimento dos pulmões foi o principal fator relacionado à gravidade, sendo que os pacientes com acometimento maior que 50% foram aqueles com maior mortalidade. O acometimento moderado dos pulmões (de 51% a 75%) ocorreu em 39% dos pacientes que faleceram e o acometimento acentuado (76% a 100%) ocorreu em 29% dos pacientes.

“Esse estudo corrobora outros já feitos mostrando a importância da tomografia computadorizada de tórax como método de triagem junto com outros exames, e traz, ainda, a particularidade do pneumomediastino, que revela o risco aumentado de mortalidade nos pacientes que apresentam esse quadro”, diz Rosa.

Na sua avaliação, os radiologistas podem cooperar para um melhor manejo do paciente: “Em tomografias bem indicadas, a rápida identificação de achados de mau prognóstico pode aconselhar o manejo do paciente por meio de instalações de atendimento hospitalar e decisões da equipe”.

 

Texto: Sueli de Freitas
Foto: Divulgação 
Edição: Thereza Marinho