Capivaras no campus de Goiabeiras: saiba mais sobre essa espécie e conheça as orientações de biólogos

22/05/2024 - 18:06  •  Atualizado 22/05/2024 18:36
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Foto de cinco capivaras em uma área gramada no campus de Goiabeiras

De tempos em tempos, a comunidade universitária nota a presença de grupos de capivaras no campus de Goiabeiras, principalmente nos arredores do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), próximo à lagoa. Mamíferos herbívoros, estes animais são conhecidos como os maiores roedores do mundo e têm hábitos semiaquáticos, vivendo em grupos que podem ser de dezenas de animais em ambientes naturais preservados.

As capivaras são dóceis e costumam se adaptar bem a ambientes de campo e floresta, sempre próximo a rios e lagos. É o caso de parques e espaços universitários, como os campi da Universidade de São Paulo (USP) em São Paulo e Ribeirão Preto; da Universidade Federal de Viçosa (UFV); e da Ufes. “Nestes ambientes, elas encontram as plantas que comem e se abrigam na vegetação e nas águas, usando o ambiente aquático para se proteger de predadores, se deslocar e reproduzir”, explica a bióloga e professora do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento (DPSD) Rosana Tokumaru, que completa: “O que está acontecendo aqui na Ufes não é incomum. É possível ter uma convivência pacífica com esses animais, na medida em que as pessoas sejam informadas sobre como se portar com elas. São animais muito pacíficos e tranquilos, desde que não se sintam ameaçados”.

Desequilíbrio

Segundo a bióloga, a presença das capivaras na Universidade se relaciona diretamente com o desequilíbrio ambiental, mais especificamente com o desmatamento e a poluição dos rios, que acabam com o habitat desses animais e fazem com que eles se desloquem para espaços mais próximos dos humanos em busca de água e plantas para servir de alimento. “Já houve outros registros de capivaras no campus. Em geral, são animais jovens que estão migrando de um grupo para outro ou formando novos grupos”, ressalta.

O biólogo e professor do Departamento de Ciências Biológicas (DCBio) Yuri Leite acredita que as capivaras provavelmente ocupavam a região de Goiabeiras muito antes da construção da Ufes: “Com a organização e a construção do campus e o crescimento da cidade, talvez elas tenham parado de frequentar e agora estão retornando para um ambiente que, na verdade, sempre foi delas. Nós construímos em um espaço no qual não estávamos antes”.

Para o professor, a pandemia de covid-19 pode ter relação com o retorno das capivaras à Ufes já que, durante o período de isolamento social, o campus ficou vazio e a cidade apresentou pouco tráfego por muito tempo: “O fenômeno que aconteceu mundialmente foi a invasão de espécies de animais selvagens em várias cidades justamente porque não tinha movimento de pessoas e veículos, então os animais se sentiram mais seguros para voltar. Acredito que isso pode ter ajudado nesse fenômeno de os animais ficarem menos arredios com os seres humanos”.

Ele cita também a escassez de predadores, uma vez que poucos animais conseguem capturar e comer um animal que pode chegar a pesar 100 quilos. “Em geral, os principais predadores das capivaras aqui seriam a onça-pintada, a onça-parda e a jaguatirica, que são animais que estão ameaçados de extinção e atualmente são muito raros aqui no estado”, lembra.

Recomendação

Embora tranquilas, as capivaras podem atacar caso se sintam acuadas e amedrontadas. A recomendação é que as pessoas evitem se aproximar dos animais, mesmo que eles pareçam estar parados, pois podem se sentir ameaçados com a proximidade e atacar. “Em geral, eles dão um pequeno ‘latido’, correm e mergulham na água, quando estão próximos dela. Mas se estiverem em um local do qual não podem fugir e se sintam acuados, podem atacar”, ressalta Tokumaru.

Leite aconselha que a comunidade universitária fique longe das capivaras, especialmente de fêmeas com filhotes: “O ideal é manter distância, tirar fotos de longe e curtir o maior roedor do mundo. É um bicho muito legal, mas que não deve ser perturbado”. Tokumaru reafirma o conselho dado por Leite: “Para bem conviver com as capivaras do campus, recomendo que as pessoas mantenham distância, tirem muitas fotos e admirem estes belos animais e sua vida social. É um espetáculo à parte ver os filhotes no meio do grupo quando eles estão em deslocamento ou sendo amamentados. Ou quando brincam de subir nos adultos, correr atrás uns dos outros, pular e depois param para dormir e descansar!”

Doença

A recomendação de manter distância se justifica também pela preocupação com doenças, já que as capivaras são hospedeiras de carrapatos-estrela, que podem estar contaminados com a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa. A transmissão se dá pela picada do vetor infectado. “Caso os vetores não estejam infectados com a bactéria, o único risco para as pessoas seria apenas o de pegar carrapatos”, diz Tokumaru. Os sintomas da doença incluem febre de moderada a alta de início súbito e dores de cabeça e muscular.

A prevenção da febre maculosa é baseada no impedimento do contato com o carrapato, uso de repelente contra o parasita e extração do carrapato o mais rapidamente possível com uma pinça, caso seja encontrado no corpo. “Quanto menor o tempo de exposição, menor o risco de contrair a doença”, alerta a professora do Departamento de Enfermagem (DE) Carolina Sales.

Segundo o professor do Departamento de Medicina Social (DMS) Crispin Cerutti Junior, o número de casos da doença é maior no norte do estado e não há informações de carrapatos infectados na Região Metropolitana de Vitória. A Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) informa que, apesar de se encontrar algumas capivaras pela cidade e da possibilidade de que uma ou outra apresente o vetor infectado, isso não geraria nenhum surto da febre maculosa, já que não haveria grande quantidade de carrapatos no ambiente. Segundo dados da Sesa, não há registros de casos de febre maculosa em Vitória desde 2007.

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