Você realmente entende o que a nova rotulagem nutricional dos alimentos quer te dizer? Ler rótulos de alimentos nem sempre é uma tarefa simples e é justamente essa experiência cotidiana que motiva uma pesquisa desenvolvida por pesquisadoras do Departamento de Nutrição (DN/Ufes) e do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde (PPGNS/Ufes), no campus de Maruípe. O estudo investiga como adultos com e sem diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) compreendem a rotulagem nutricional de alimentos após as mudanças implementadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, em 2020, instituiu a nova rotulagem no Brasil.
Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a leitura e compreensão dos rótulos e subsidiar ações voltadas à promoção de escolhas alimentares mais saudáveis, a estudante de mestrado do PPGNS Gabriela Meigre, em parceria com as professoras Fabíola Soares (orientadora) e Erica Moraes (coorientadora), elaborou um questionário on-line destinado a pessoas com idades entre 18 e 59 anos, residentes nos municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari, Serra e Fundão, com ou sem diagnóstico médico de TDAH. “Cada resposta vai nos ajudar a fortalecer a produção de conhecimento científico e a desenvolver estratégias que promovam escolhas alimentares mais saudáveis e conscientes. A participação da população é essencial para o sucesso do estudo”, destaca Moraes.
Intitulada Análise comparativa da compreensão da nova rotulagem nutricional entre adultos com e sem TDAH antes e após vídeo educativo, a pesquisa busca identificar diferenças na forma como pessoas com e sem TDAH observam, interpretam e compreendem os rótulos, além de analisar o impacto de um vídeo educativo nesse processo. O estudo tem origem em projetos de pesquisa e extensão voltados ao público neurodivergente e em iniciativas relacionadas à rotulagem de alimentos, coordenados, respectivamente, por Soares e Moraes.
Nutricionista, Meigre explica que o crescimento no número de pessoas com TDAH (“condição associada a formas distintas de atenção e processamento da informação”) pode influenciar a compreensão da rotulagem nutricional. Segundo a pesquisadora, esse público consome uma quantidade significativa de alimentos industrializados, o que aumenta o risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. Meigre ressalta ainda que, mesmo com os avanços na regulamentação, persistem dificuldades na leitura, compreensão e aplicação das informações nutricionais no momento da escolha dos alimentos.
“Considerando a ausência de estudos que relacionem diretamente a rotulagem nutricional a esse público, o projeto foi desenvolvido com o objetivo de analisar e comparar a compreensão da nova rotulagem entre pessoas com e sem diagnóstico de TDAH, contribuindo para estratégias de educação alimentar e nutricional mais inclusivas e para o fortalecimento de políticas públicas de saúde”, destaca Meigre.
Selo de advertência
O estudo também chama atenção para a principal novidade trazida pela mudança nos rótulos: a inclusão de um símbolo em formato de lupa na parte frontal das embalagens, que indica termos como “alto em sódio”, “alto em açúcar adicionado” e “alto em gordura saturada”. Esses alertas têm a proposta de tornar a informação mais clara e facilitar escolhas alimentares mais conscientes. Ainda assim, Moraes explica que muitas pessoas relatam dificuldade para compreender o significado do selo de advertência e sua relação com a composição do alimento.
A professora observa, ainda, confusão e incerteza sobre como os dados nutricionais devem orientar a decisão de compra. “A falta de hábito de leitura dos rótulos e a sobrecarga de informações visuais nas embalagens também dificultam a compreensão, especialmente para pessoas com menor conhecimento em saúde ou com dificuldades de atenção”, avalia.
Para Moraes, como universidade pública, a Ufes exerce um papel relevante na produção de conhecimentos que dialogam diretamente com as políticas públicas de saúde e com as demandas da população capixaba: “Ao fomentar pesquisas sobre rotulagem nutricional, a instituição fortalece o debate sobre alimentação saudável, direito à informação e prevenção de doenças crônicas, ampliando a conscientização da sociedade e apoiando ações de educação alimentar e nutricional no Espírito Santo”.
Fotos: Freepik e Gabriela Meigre
Universidade Federal do Espírito Santo