Gratuito, espetáculo Metropolis reúne teatro e samba no Teatro Universitário

22/06/2023 - 17:52  •  Atualizado 25/06/2023 18:07
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Encontro de linguagens e referências, o espetáculo híbrido Metropolis, Tragédia de um País chega ao palco do Teatro Universitário neste fim de semana. Classificada como uma “ópera-samba” por seu roteirista e diretor, o ator e dramaturgo Marcelo Ferreira, a obra é realizada pela Cia. Teatro Urgente em parceria com a escola de samba Novo Império. As apresentações acontecem no sábado, 24, às 20 horas, e no domingo, 25, às 19 horas, com entrada gratuita. Os ingressos podem ser retirados na bilheteria do teatro, uma hora antes do início do espetáculo.

Metropolis é encenado como um desfile de escola de samba, dividido por uma comissão de frente, o Coro dos operários, e pelas alas Coro dos famintos, Coro dos rebeldes e Coro da utopia. O espetáculo é conduzido por um samba-enredo, único texto falado da obra, criado pelo DJ Zappie Pimentel e pelo percussionista Rafael Jabah, com letra de Marcelo Ferreira e voz da atriz Ivny Matos. Compõem o elenco, ao lado de atores da Cia. Teatro Urgente, passistas e ritmistas da Novo Império, que realizaram um workshop imersivo na linguagem da companhia.

Há ainda outros elementos narrativos, como trilhas eletroacústica, experimental e clássica; projeções de cenas do filme homônimo Metropolis (1927), do cineasta alemão Fritz Lang, uma das inspirações do espetáculo; e imagens em vídeo criadas pelo artista visual Raphael Newman. A obra também se vale das citações da peça Macunaíma (1978), dirigida por Antunes Filho, e do samba-enredo Ratos e urubus larguem minha fantasia (1989), do carnavalesco Joãosinho Trinta.

Pós-dramático

Segundo Marcelo Ferreira, Metropolis pode ser definido com um “teatro pós-dramático ou performativo”, sustentado na movimentação dos performers em cena, na dança e na projeção de imagens, sem partir de um texto dramatúrgico. A trama se desenvolve durante um dia numa metrópole comandada por um ditador, onde miséria e fome convivem com a utopia do carnaval.

“O espetáculo mistura erudito (a trilha e a movimentação expressionista) e o popular (o carnaval, o samba)”, explica o diretor. “Os desfiles de escolas de samba são óperas populares, síntese de muitas artes. E o teatro tem sua origem nos rituais primitivos e dionisíacos na Grécia, que se configuram de forma onírica hoje no carnaval”.

A Cia. Teatro Urgente já havia encenado uma versão do espetáculo em 2009, quando estava focada na representação de obras oriundas do cinema expressionista alemão – na época, também realizaram uma montagem inspirada no clássico Nosferatu (1922). Naquela primeira versão de Metropolis, porém, os personagens se movimentavam dentro de um contêiner cenográfico e se apoiavam em um roteiro tradicional.

“Na montagem que estreia agora, revisitamos o repertório e o transformamos num enredo de escola de samba, em que os performers atravessam o palco como se estivessem na avenida e executam movimentos coreografados com rigor na expressão dos gestos”, explica Ferreira.

Distopias

Além da influência do cinema expressionista, a Cia. Teatro Urgente vem utilizando como fonte de diálogo diversas obras distópicas, entre livros e filmes. Encenada em 2012, a peça Crash, ensaio sobre a falência fazia referência aos escritos do britânico J.G. Ballard, enquanto Fahrenheit 451, de 2020, foi baseada no romance de Ray Bradbury. Metropolis é outra distopia apropriada pelo grupo.

“Para mim, o artista é um inconformado”, diz Ferreira. “O mundo capitalista não nos atende, então recriamos, propomos, questionamos. Daí meu interesse por literatura, teatro, artes visuais e audiovisuais que configuram distopias”.

Uma apresentação especial de Metropolis acontece no dia 2 de julho, às 19 horas, na quadra da escola de samba Novo Império, em Caratoíra, Vitória.

Patrocinado pelo Governo do Espírito Santo, por meio de recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria da Cultura (Secult), o espetáculo tem apoio da Secretaria de Cultura da Ufes, Pixx Fluxx, Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) e da Casa da Música Sonia Cabral.

 

Texto: Leandro Reis
Foto: Barbara Gomes - Divulgação
Edição: Thereza Marinho