Pesquisa aponta percepção de moradores sobre impactos da indústria na região de Anchieta

19/03/2020 - 12:37  •  Atualizado 19/03/2020 20:43
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Uma pesquisa com moradores e trabalhadores dos municípios de Anchieta (foto) e Guarapari aponta que a paralisação das atividades da Samarco na região diminuiu o incômodo e os problemas de saúde decorrentes da poeira industrial. Ainda assim, a maioria dos entrevistados deseja o retorno da produção da empresa devido à geração de emprego.

A pesquisa faz parte de um projeto desenvolvido pela Ufes em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Sob a coordenação dos professores Jane Meri Santos e Valdério Anselmo Reisen, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Ufes, e Milena Machado, do Ifes de Guarapari, a pesquisa teve o objetivo de investigar a percepção da população local sobre a presença industrial na região e os impactos na qualidade de vida.

Amostra

A pesquisa reuniu moradores e trabalhadores das regiões do entorno de seis estações de monitoramento da qualidade do ar de Guarapari e Anchieta – abrangendo regiões próximas às empresas Samarco e Unidade de Tratamento de Gás (UTG) Sul Capixaba, totalizando 1.471 pessoas. Os dados foram levantados por meio de questionário aplicado nos anos 2012, 2017, 2018 e 2019, ou seja, antes e nos anos seguintes à suspensão das atividades da Samarco em Anchieta.

A empresa, que tem unidades de pelotização na Rodovia ES 060, em Ubu, no município de Anchieta, paralisou sua produção logo após o rompimento de uma de suas barragens de rejeitos industriais na cidade de Mariana (MG) em 5 de novembro de 2015. Antes da tragédia, a unidade de Ubu recebia minério de Minas Gerais por meio de minerodutos. O município também abriga um porto da Samarco.

Poeira

A pesquisa apontou que moradores e trabalhadores da região perceberam de forma nítida a diminuição da poeira após a paralisação da unidade industrial. Em 2012, o incômodo com a poluição do ar era apontado por 86% dos entrevistados; em 2017, por 62%; em 2018, por 35%; e em 2019, por 20%.

A qualidade do ar, em 2012, era tida como ruim ou péssima por 45% dos entrevistados; regular por 38% e boa ou excelente por 17%. Em 2017, a percepção já era outra: 57% avaliaram a qualidade do ar boa ou excelente, 37% como regular e 6% péssima ou ruim.

Os entrevistados também afirmaram que a poeira diminuiu após a paralisação das atividades da Samarco. A resposta foi sim para 81,8% em 2017, 54,8% em 2018 e 70,7% em 2019.

Sobre as fontes de poluição, em 2012, a principal apontada era a industrial (66%), seguida pela opção outras (20%) e veicular (14%). Em 2019, a ordem foi invertida: veicular (40%), outras (49%) e industrial (11%).

Os impactos na saúde e na qualidade de vida decorrentes da poeira gerada pela atividade industrial foram doenças respiratórias, como rinite, sinusite e alergias, obrigando visitas constantes aos serviços médicos. Outro problema levantado foi a sujeira nas residências, especialmente em 2012 e 2017. Também como pontos negativos da presença industrial na região foram apontados os prejuízos à saúde (42%) e ao meio ambiente (27%), segundo dados de 2017.

Relevância

Apesar dos incômodos e desses prejuízos à saúde e ao meio ambiente, a população entrevistada considerou a presença industrial muito relevante para a região. Essa relevância está associada à geração de emprego: 75% apontaram essa opção em 2017, 79% em 2018 e 81% em 2019. Dos entrevistados, 74% disseram, em 2017, que a Samarco deveria voltar a operar. Em 2018 e em 2019, o percentual dos que queriam a volta da empresa foi de 93,3%.

“Apesar da emissão de poluentes, a suspensão das atividades da empresa impacta em outros aspectos da qualidade de vida da população, como a redução da ofertas de empregos e a consequente diminuição da renda. O ideal seria termos um equilíbrio entre a atividade industrial e a redução dos impactos ambientais na região”, afirma o professor Valdério Reisen.


Texto: Sueli de Freitas
Foto: Divulgação - Prefeitura Municipal de Anchieta 
Edição: Thereza Marinho