Debate marca mobilização dos homens contra violência às mulheres

09/12/2019 - 19:20  •  Atualizado 11/12/2019 08:42
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No Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra a Mulher, instituído em 6 de dezembro pela Lei Federal 11.489/2007, o Laboratório de Estudos de Gênero, Poder e Violência (LEGPV) da Ufes recebeu entidades e representações governamentais para debater as iniciativas direcionadas ao sexo masculino no II Colóquio Homens e a Violência Contra as Mulheres. Após o evento, os participantes percorreram o Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), no campus de Goiabeiras, entregando laços brancos aos estudantes, professores e servidores técnico-administrativos (foto).

“Se o homem é o ser que pratica a violência contra a mulher, temos que reeducá-lo. Infelizmente, são poucos projetos de grupos reflexivos para homens, enquanto o índice de violência é muito grande. Há necessidade de que os projetos cresçam e tenham investimentos. Também é necessário fazer um trabalho com nossas crianças, pensando nos homens do futuro”, afirmou a coordenadora do LEGPV, Maria Beatriz Nader.

Um dos convidados a falar sobre o tema foi o psicanalista do Instituo Somato, do Rio de Janeiro, Fernando Acosta. Ele trabalha com grupos reflexivos de gênero atendendo a homens denunciados pela Lei Maria da Penha que são encaminhados pelos juizados de violência doméstica da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. “É preciso promover uma desconstrução da concepção machista, misógina, homofóbica, patriarcal, não só para reduzir a violência contra as mulheres, mas a violência como um todo. Nos grupos, 95% deixam de praticar violência contra a mulher após o ciclo”, afirma.

A ONG também faz trabalho preventivo com grupos na capital fluminense. A experiência, segundo o psicanalista, tem sido boa. “Há três anos, fazemos um trabalho com quatro blocos de Carnaval e grupos de samba. Não apenas o assédio foi reduzido, como os homens desses grupos começaram a ser ativistas. Num dos blocos, no cortejo deste ano, os homens deram visibilidade às ações contra o assédio às mulheres”, afirma.

Espírito Santo

No Espírito Santo, desde 2011, existe o Fórum de Homens Capixabas, um grupo que busca a ressignificação do que é ser masculino. “Queremos outro modelo de masculinidade, que não tenha medo de relações igualitárias nos cuidados com a família, na educação dos filhos, nos serviços domésticos. Repudiamos todas as formas de violência”, afirma um dos membros do Fórum, João José Barbosa Sana, que também participou do II Colóquio.

Segundo a psicóloga Ana Paula Milani, mais de 300 homens passaram pelo projeto Homem que é Homem, da Polícia Civil do Espírito Santo, desde seu início, em março de 2015. Os grupos reflexivos são direcionados aos denunciados pela Lei Maria da Penha. A partir do boletim de ocorrência, os homens são convidados a integrar o grupo. São oito encontros por ciclo.

Outra iniciativa direcionada aos agressores é o Espaço Fala Homem, da Prefeitura de Vitória, que atende àqueles que estão em centros de detenção provisória localizados na Grande Vitória. “O que percebemos é a naturalização da violência. Muitas vezes, o agressor nem sequer consegue perceber o que ele fez, o machismo prevalece, ele pensa 'quem manda sou eu', e usa da violência física. O grupo reflexivo é importante para o homem reconhecer a situação de violência”, afirma a assistente social Fernanda Vieira.

Laço branco

O estudante Pedro Gomes, mestrando em Ciências Sociais da Ufes, foi um dos que recebeu o laço. Ele não conhecia a campanha do Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra a Mulher nem a sua origem, mas apoia a iniciativa. “Nenhum homem é capaz de entender a violência que uma mulher sofre. É preciso mudar essa realidade”, declara. Na sua avaliação, o machismo, a homofobia e o racismo são questões estruturais da sociedade capitalista.

A Campanha do Laço Branco lembra o assassinato de um grupo de mulheres, em 6 de dezembro de 1989, numa escola do Canadá. Um homem de 25 anos invadiu uma sala de aula, liberou os rapazes, matou as moças gritando que elas eram “feministas” e suicidou-se.

 

Texto e foto: Sueli de Freitas
Edição: Thereza Marinho