Professora da Ufes lança, na França, livro sobre hanseníase

16/07/2019 - 11:26  •  Atualizado 18/07/2019 10:12
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A professora do Departamento de Medicina Social da Ufes Patrícia Deps lançou, em Paris, no final de junho, o livro O Dia Em Que Mudei De Nome - Hanseníase e Estigma (The Day I Changed My Name - Leprosy and Stigma). A obra apresenta os resultados do projeto de extensão coordenado pela professora entre os anos de 2014 e 2017, com o objetivo de avaliar a repercussão do isolamento compulsório dos hansenianos e de suas famílias na sociedade capixaba.

Esta matéria foi publicada na edição 545 do jornal Informa. Clique aqui e acesse a edição na íntegra.

O livro, bilíngue, também foi lançado durante o Colóquio Regards Culturels et Sociaux autour des Épidémies (Perspectivas culturais e sociais sobre epidemias), realizado no Musée du quai Branly - Jacques Chirac, na capital francesa. 

O projeto de extensão que deu origem à publicação se caracterizou principalmente pelo aspecto documental, englobou pesquisas bibliográfica e de campo sobre a hanseníase no Espírito Santo, e incluiu entrevistas com ex-internos do Hospital Colônia Pedro Fontes (os que ainda moram na Colônia e os que já saíram), familiares, funcionários do hospital e do Educandário Alzira Bley, freiras, padres, diretor e ex-diretores clínicos do hospital. Contou ainda com pesquisa sobre a vida do padre Mathias Hahn e sua atividade na Colônia. 

Hanseníase é o termo oficialmente utilizado no Brasil para designar uma doença antiga, a lepra. Há registros oficiais de sua ocorrência desde 600 a.C. Não foram adotadas estratégias pelo poder público brasileiro para o controle da doença até 1912 e, somente por volta de 1930, o combate à hanseníase começou a ser implantado. 

Autoria

Juntamente com a professora Patrícia, assinam artigos os integrantes do projeto de extensão, alunos e ex-alunos de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas da Ufes. Também são coautores da obra o escritor Adilson Vilaça, o historiador Henrique Costa, a assistente social Dora Cypreste e a fisioterapeuta Luciana Quintela. A publicação conta, ainda, com a fotografia de Tadeu Bianconi. 

Além de doutora em Dermatologia e Hansenologia, a professora Patrícia Deps é pesquisadora visitante honorária do Serviço de Antropologia Médica do Hôpital de Nanterre (França), do museu Catacumbas de Paris e do Musée du Quai Branly.

Catacumbas de Paris

Na França, a professora Patrícia Deps também apresentou os resultados de um estudo inédito nos crânios das Catacumbas de Paris. Na pesquisa, realizada em parceria com o médico e paleopatologista da Université Versailles Saint Quintin-en-Yvelines Philippe Charlier, foram analisados mais de 300 crânios para verificar a presença de alterações ósseas da região rino-maxilar típicas da hanseníase. 

“Da parte clínica da primeira fase dos estudos, encontramos Síndrome Rino -Maxilar (SRM) em 11% dos 71 crânios examinados. Destes, 5% dos crânios tinham sinais de trepanação, um crânio com sífilis terciária, 7% com abcessos dentários, vários com alterações postmortem e muitos violados por turistas. Amostras ósseas e dentárias foram enviadas para análise de DNA antigo de Mycobacterium leprae na University College of London, e aguardamos resultados”, conta a professora, que foi convidada pelo museu Catacumbas de Paris para organizar uma exibição dos resultados da pesquisa. 

A professora informa que as possíveis origens dos crânios com SRM são dos internos de lazaretos (hospitais para leprosos), bem como do Hospital Saint-Lazare. Ela afirma que, além do estudo paleopatológico, arqueológico e histórico, também serão discutidas questões éticas relacionadas ao uso de restos humanos em museus destinados a ensino e pesquisa, e entretenimento e lucro.

Abaixo de alguns bairros de Paris, em 800 km de galerias subterrâneas, estima-se que existam esqueletos de cerca de 10 milhões de pessoas. O local é considerado o maior ossuário do mundo e recebe cerca de 500 mil visitantes por ano.