Após 17 anos e meio de pesquisa, reunindo arquivos dispersos no Brasil, Portugal e Uruguai, os historiadores brasileiros José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basile trazem à tona 362 panfletos que têm como temática a independência do Brasil. Todos os panfletos estão organizados nos quatro volumes da obra “Guerra literária: panfletos da independência (1820-1823)”, que será lançada nesta quarta-feira, dia 11, às 20 horas, no Salão São Thiago, do Palácio Anchieta.
Escritos entre 1820 e 1823, entre esses impressos, dois foram redigidos pelos capixabas padre Marcelino Pinto Ribeiro Duarte e o bacharel Manuel Pinto Ribeiro de Sampaio. Os dois pertenciam à família Pinto Ribeiro, cujos primeiros ascendentes chegaram à antiga Capitania do Espírito Santo no começo do século XVIII.
“Trata-se de uma obra de enorme importância para o conhecimento da imprensa e que enriquece a observação do atual movimento das novas mídias. Os documentos contidos na obra demonstram como os conceitos e opiniões podem se transformar diante da circulação de ideias e talvez nos ensinem a compreender o grandioso fenômeno da multiplicação da informação nos dias atuais”, destaca a professora do Departamento de História da Ufes, Adriana Campos.
Antes do lançamento do livro, haverá uma mesa-redonda, às 19 horas, com a presença dos três autores. Com o tema “Imprensa e opinião pública pela independência política do Brasil”, a mesa pretende atrair estudantes da área, historiadores, professores, cientistas políticos e jornalistas.
O evento é organizado pela Ufes, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), por meio da Biblioteca Pública Estadual.
A obra
A professora relata que, para compor os quatro volumes da obra, os autores organizaram mais de 200 panfletos encontrados no Brasil e em Portugal, alguns no formato de ensaios, análises, sermões, entre outros. Os impressos mostraram que a guerra pela independência foi travada não apenas com voz ou armas, mas com a pena, em uma “Guerra Literária”. Homens que pertenciam à elite letrada se dirigiam a ela por meio desses panfletos, mas o povo também era alvo de seus escritos, fazendo-os extrapolar os salões elitizados e serem lidos em voz alta nas barbearias e tabernas.
“O povo tinha acesso aos panfletos por meio das apaixonadas discussões provocadas por seu conteúdo político. Formava-se, assim, tanto nas ruas quanto nos salões mais requintados, a opinião pública pela independência do Brasil. O debate levantava os protestos contra o Antigo Regime das monarquias e clamava pelo constitucionalismo, nova cultura política que se alastrou entre os brasileiros como fundamental dos novos tempos”, explica.
Texto: Letícia Nassar, com informações da professora Adriana Campos
Edição: Thereza Marinho