Comunidade universitária lota Teatro da Ufes para debate sobre orçamento e Future-se

20/08/2019 - 18:09  •  Atualizado 01/11/2022 09:16
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A comunidade universitária lotou o Teatro Universitário na manhã desta terça-feira, 20, para participar do debate público Os impactos do corte orçamentário e do programa “Future-se” na Ufes. A ação, coordenada pelo Comitê em Defesa da Universidade Federal do Espírito Santo, contou com exposições do reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, do presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), João Carlos Salles, e do servidor técnico-administrativo em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Gibran Ramos Jordão.

O debate foi conduzido pelos membros do Comitê em Defesa da Ufes Gustavo Forde e José Antônio da Rocha. Antes das falas dos palestrantes, o evento abriu espaço para pronunciamentos das entidades representativas dos docentes, técnicos-administrativos e estudantes da Ufes. A presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes, Beatriz Moreira, defendeu: “A Universidade é investimento, não é ela que tem buscar recursos financeiros na iniciativa privada, é preciso um querer do Estado em mantê-la”.

O presidente da Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), José Antônio da Rocha, falou sobre a expansão recente da Ufes e o destaque dos docentes e estudantes no cenário científico nacional e internacional. “Esse crescimento, no entanto, não foi acompanhado pelo devido aporte financeiro. Principalmente a partir de 2014, começaram os cortes e, agora, a crise orçamentária se agrava”, ressaltou. Ele também falou sobre os debates e as ações realizadas pela Adufes: “Não vamos ficar de braços cruzados. Estaremos sempre dispostos a lutar pela Universidade e pela educação pública em todos os níveis”.

O coordenador de Imprensa, Esporte e Cultura do Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes), Lucas Martins, apresentou duas propostas do Sindicato para as questões abordadas no debate: “Estamos construindo a campanha SOS Ufes, com a participação de docentes, técnicos-administrativos e estudantes, para a defesa permanente da Universidade, e também propomos a realização de uma sessão pública do Conselho Universitário da Ufes para discussão sobre o Future-se, nos moldes do que foi realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)”, disse o servidor.

Após os pronunciamentos, a vice-reitora da Ufes, Ethel Maciel, foi a responsável por fazer a abertura oficial do debate. Ela deu as boas-vindas aos presentes, destacou a importância do momento e a satisfação em ver o Teatro lotado: "O momento nos une em torno de um projeto de nação e nós defendemos um projeto de educação pública, gratuita e de qualidade", declarou. 

Exposições

Cada convidado teve 20 minutos para fazer suas considerações sobre os impactos do corte orçamentário e do programa Future-se, apresentado pelo Ministério da Educação (MEC) no dia 17 de julho deste ano. O técnico-administrativo da UFRJ Gibran Ramos Jordão iniciou sua fala destacando que o ensino superior público e gratuito e a autonomia didática, científica e administrativa das universidades e institutos federais são direitos garantidos na Constituição Federal brasileira.

Jordão falou sobre a necessidade de defesa do direito democrático do acesso ao conhecimento e, para isso, elencou três linhas de defesa. “O primeiro ponto é fazer a defesa do ensino público e gratuito e dos direitos dos trabalhadores como uma luta ideológica, jamais admitindo que a universidade seja capturada por um só pensamento. O segundo aspecto é promover o diálogo com a sociedade, ir para os bairros, abrir cursos populares. A sociedade precisa ter acesso a isso tudo, mesmo que não esteja dentro da universidade. A terceira estratégia é construir a unidade entre docentes, técnicos-administrativos, estudantes, universitários, estudantes secundaristas, trabalhadores”, defendeu.

O reitor Reinaldo Centoducatte argumentou que a prioridade, no momento, deve ser a discussão dos orçamentos de 2019 e de 2020, questões que já têm causado reflexos no funcionamento das universidades, devido aos cortes realizados pelo MEC. Ele apresentou dados sobre o orçamento da Ufes, mostrando que a previsão orçamentária para a Universidade, em 2019, é de R$ 71 milhões para o custeio, verba direcionada a gastos com manutenção e funcionamento da instituição, como contas de água e energia, e contratos, como os de limpeza e vigilância. O reitor da Ufes explicou que, nos seis primeiros meses de 2019, o Governo Federal estava mantendo a liberação de cerca de 8% do orçamento de custeio, mas, a partir de julho, houve uma redução, e a liberação passou para aproximadamente 5%. Dessa forma, Centoducatte informou que a Ufes tem um déficit mensal projetado de cerca de R$ 2,8 milhões.

O reitor também falou sobre as medidas adotadas para a redução de gastos a partir dos cortes anunciados, como a suspensão do uso de aparelhos de ar-condicionado em alguns ambientes, alteração na frequência de limpeza, realização de serviços de manutenção predial apenas em casos emergenciais, entre outras (clique aqui para ver a íntegra do comunicado). Depois de mostrar os números da Ufes, o Centoducatte afirmou: “A reversão desse quadro depende um pouco de nós, mas muito do que conseguirmos construir em outros setores da sociedade, com mobilizações. Universidades e institutos federais são um patrimônio da sociedade brasileira”, ressaltou.

O presidente da Andifes, João Carlos Salles, apresentou suas percepções sobre o atual contexto das universidades federais: “Estamos em um cenário em que a pesquisa é desacreditada, em que algumas pessoas acham que a universidade deveria se comportar de uma maneira limitada, limitando-se a formar quadros da elite, mas somos um patrimônio que deve estar em todos os lugares do país. Nossas instituições são e devem ser plenas, não crescemos numa única direção, temos que procurar a excelência em todas as áreas. Nenhuma área pode crescer ao preço da destruição de outra área”, defendeu. O reitor ressaltou a importância do aprofundamento do debate e do reforço da unidade entre as universidades.

Participação

Após as exposições, a plateia pôde participar com perguntas direcionadas aos participantes do debate. Em cada um dos três blocos, três perguntas foram sorteadas, contemplando os segmentos que compõem a Universidade: estudantil, docente e técnico-administrativo. Ao final de cada bloco, os palestrantes tiveram cinco minutos para respostas.

Durante o debate, a comunidade universitária também participou com questionamentos e intervenções, como uma ação em que alguns dos presentes seguravam guarda-chuvas pintados com letras que formavam a frase “A Universidade resiste”, ou, em outros momentos, gritando palavras de ordem. O evento também foi transmitido via web, pela Secretaria de Ensino a Distância da Ufes, e teve a acessibilidade em Libras garantida pela participação da equipe do Núcleo de Tradução e Interpretação em Libras da Universidade.

O Comitê em Defesa da Universidade Federal do Espírito Santo, organizador do debate, é formado por representantes da Administração Central, da Adufes, do Sintufes e do DCE. O grupo está verificando a disponibilidade de datas para a realização de debates nos campi do interior, em São Mateus e Alegre.

Texto: Ana Paula Vieira

Foto: Jorge Lellis