Carlos Nobre recebe título de Doutor Honoris Causa da Ufes

16/10/2023 - 19:21  •  Atualizado 17/10/2023 19:47
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O professor e climatologista Carlos Nobre recebeu nesta segunda-feira, 16, o título honorífico de Doutor Honoris Causa da Ufes por suas contribuições científicas nas áreas de meio ambiente e mudanças climáticas e pela defesa da Amazônia. A cerimônia aconteceu no Cine Metrópolis, durante sessão solene do Conselho Universitário, integrando a programação da Semana do Conhecimento.

O reitor Paulo Vargas, proponente do título, destacou que a honraria concedida “simboliza o nosso respeito e a nossa admiração pelo professor, um dos cientistas mais notáveis do Brasil e do mundo”. Ele falou da trajetória de pesquisador de Nobre e dos inúmeros prêmios e títulos que recebeu no Brasil e no exterior.

Vargas também lembrou da importância de um pesquisador “usar seu conhecimento e sua notoriedade e se inserir nos meios externos à academia para, efetivamente, fazer a diferença. Seja falando de mudanças climáticas ou da Amazônia, os alertas do professor Carlos Nobre lembram para a humanidade e, especialmente para os tomadores de decisões, dos riscos que estamos todos correndo”, afirmou, referindo-se ao aquecimento global.

Nobre, que foi fundadores do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes (IEC-ES), afirmou estar “muito honrado” com o título. “É a primeira vez que recebo aqui no Brasil um título Honoris Causa de uma universidade. Vejo que isso também é uma avaliação muito positiva de quão bem está caminhando o IEC”, afirmou, destacando que o Instituto gerou o curso de mudanças climáticas, teses de doutorado e dissertações de mestrado, além da criação de uma base de dados com projeções futuras de mudanças climáticas para todo o Brasil e, especialmente, para Espírito Santo. “Então, o Instituto é uma ferramenta importante para que possamos combater a emergência climática”, disse.

ES deve zerar emissões

Um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, pelas iniciais em inglês) agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007, Nobre salientou em seu discurso que o Espírito Santo tem potencial para “estar entre os primeiros estados brasileiros a zerar as emissões de gases de efeito estufa”. Segundo ele, para que isso aconteça são necessários investimentos em grandes projetos de restauração da Mata Atlântica, uma transição para uso de energias renováveis e adoção da agricultura e pecuária regenerativas.

“O maior desafio hoje é reduzir as emissões de gases de efeito estufa. 75% das emissões são [provenientes] do uso da terra, sendo 50% de desmatamento e 25% da agricultura. Aqui no Espírito Santo, uma grande parte das emissões é [por] geração de energia. O Estado tem enorme potencial de fazer rapidamente a transição para energias renováveis como, por exemplo, toda a frota de ônibus ser eletrificada, o que diminui muito a emissão de gases de efeito estufa e também diminui muito a poluição. A Mata Atlântica tem grande potencial de restauração e o Estado já tem política de restauração florestal. Também é um desafio tornar a agricultura e a pecuária capixaba mais sustentável - a gente chama de agricultura e pecuária regenerativas, tudo isso é factível. Então, o Estado e a Universidade têm que investir muito para essas transformações”, afirmou.

Sobre Carlos Nobre

Nascido em São Paulo em 1952, o professor Carlos Nobre se formou em Engenharia Eletrônica pelo ITA em 1974, antes de seguir para os Estados Unidos para obter seu PhD em Meteorologia pelo MIT. Ao retornar ao Brasil, em 1981, após a conclusão de seu doutorado, começou a trabalhar no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Em 1991, Nobre foi nomeado coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, onde liderou a criação do modelo de previsão climática sazonal, o qual permite prever com até três meses de antecedência o que pode acontecer com o clima em diferentes regiões do Brasil. Essas ferramentas de modelagem são usadas até hoje para entender e prever os padrões climáticos no país, bem como para tomar decisões importantes em áreas como agricultura, planejamento de infraestrutura e gestão de recursos hídricos.

Atualmente, tem 186 artigos científicos, 52 capítulos de livros, oito livros publicados como autor ou organizador, 42 textos publicados em jornais ou revistas e 30 orientações de dissertações de mestrado ou de teses de doutorado.

O pesquisador formulou, há 27 anos, a hipótese da "savanização" da Amazônia em resposta a desmatamentos, e vem estudando como o aquecimento global pode influenciar a floresta tropical. Participou de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, sendo um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007.

Recebeu ainda vários outros prêmios e títulos no Brasil, na União Europeia, na Argentina e na Suécia. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências e membro estrangeiro da National Academy of Science dos Estados Unidos.

Em 2022, foi eleito membro estrangeiro da Royal Society, a Academia Nacional de Ciências do Reino Unido, que é a academia científica mais antiga do mundo em existência contínua. Antes dele, o único brasileiro a figurar na lista era Dom Pedro II, imperador do Brasil, eleito em 1871 como membro da realeza, e não como cientista.

Além de sua destacada atuação científica, o professor Carlos Nobre exerceu funções de gestão e coordenação científicas e de política científica, como presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais; e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

O seu vasto currículo registra ainda sua atuação, no momento, como pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e coordenador técnico do Instituto de Estudos Climáticos do Espírito Santo, sendo o pesquisador principal, encarregado da construção dos cenários climáticos futuros com base nas projeções climáticas.

É também professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Ufes, responsável pela disciplina de Mudanças Climáticas, ofertada a todos os programas de pós-graduação da Ufes.

 

Texto: Sueli de Freitas
Fotos e edição: Thereza Marinho