Pesquisas do Departamento de Oceanografia ganham destaque internacional

15/10/2018 - 19:17  •  Atualizado 16/10/2018 18:31
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A conversão de florestas de manguezais da região semiárida do Nordeste do Brasil para aquicultura de viveiros de camarões resulta na emissão de 10 vezes mais de gases do efeito estufa (CO2) quando comparada à emissão provocada por fogo em florestas continentais. Isso ocorre porque 70% dos estoques ecossistêmicos de carbono estão no solo, e para implantar as fazendas de camarão são retirados de 1 a 2 metros superficiais de solo, o que leva à perda de 58% a 82% dos estoques de carbono, emitindo uma média de 1,390 toneladas de CO2 equivalente por hectare de área removida.

Essa constatação é fruto de pesquisas desenvolvidas por Angelo Bernardino e Luiz Eduardo Gomes, do Departamento de Oceanografia da Ufes; Tiago Ferreira e Gabriel Nuto Nobrega, da Universidade de São Paulo (USP); J. Boone Kauffman, da Oregon State University (EUA); e Nicholas W. Bolton, da University of Georgia (EUA). O objetivo da pesquisa foi determinar os estoques de carbono do ecossistema e as potenciais emissões de gases de efeito estufa a partir do uso generalizado da terra, medindo os estoques de carbono de oito manguezais e três tanques de camarão nas bacias de Acaraú e Jaguaribe, no estado do Ceará. Para alcançar os objetivos, as lagoas de camarão foram comparadas aos mangues intactos adjacentes para averiguar as perdas de carbono e as emissões potenciais da terra.

Os dados inéditos da pesquisa foram publicados em dois artigos (confira os links abaixo): um na revista da Sociedade Real Inglesa de Ciências (Biology Letters) e outro na Ecology and Evolution. Os resultados também foram tema de uma reportagem na revista eletrônica britânica de divulgação científica CarbonBrief: clear on climate.

“Em nossos estudos, mostramos que os estoques de carbono azul, que é o carbono sequestrado da atmosfera e armazenado em ecossistemas costeiros, em solos de manguezais do semiárido do Nordeste se assemelham aos estoques de manguezais Amazônicos, mesmo com grandes diferenças pluviométricas entre essas regiões. Porém verificamos que o estoque aéreo da Amazônia é um dos mais altos do mundo em razão do alto desenvolvimento das florestas”, explica o professor Bernardino.

Pegada ecológica

De acordo com o estudo, nas áreas de alto desenvolvimento de florestas de manguezais, aproximadamente 70% dos estoques ecossistêmicos de carbono estão no solo. Comparativamente, cada hectare de manguezal amazônico sequestra mais de duas vezes o carbono retido em florestas tropicais continentais, como a Floresta Amazônica. Já no semiárido, os manguezais do Nordeste sequestram mais de oito vezes o equivalente a ecossistemas terrestres da Caatinga.

“Quando se considera a vida útil de certas carciniculturas e a sua produtividade, o consumo de cerca de 1 kg de camarão produzido em áreas onde houve remoção de manguezais tem uma pegada ecológica, ou seja, emite uma quantidade de CO2 equivalente similar a dirigir um carro econômico por 100 km", afirma Bernardino.

Esses protocolos e estudos ecológicos estão sendo aplicados pelo grupo de estudo Programa Ecológico de Longa Duração-Habitats Bentônicos Costeiros do Espírito Santo (PELD-HCES), coordenado pelos professores Angelo Bernardino e Jean Joyeux, do Departamento de Oceanografia, que procura entender melhor a dinâmica do carbono e de diversos gases do efeito estufa em florestas de manguezais. O PELD-HCES conta com a parceria de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade do Estado de Oregon. A pesquisa tem financiamento do CNPq em conjunto com a Capes e a Fapes.

Os artigos completos estão nos endereços eletrônicos:

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ece3.4079

http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/14/9/20180208

Leia também a reportagem na revista eletrônica CarbonBrief: https://www.carbonbrief.org/amazon-mangroves-twice-as-carbon-rich-as-its-rainforests


Texto: Letícia Nassar
Foto: Rhizophora mangle (mangue vermelho), no Pará. Danilo Romero/USP