Pesquisa inédita sobre hanseníase, realizada em crânios, é destaque em revista britânica

10/02/2020 - 13:42  •  Atualizado 13/02/2020 12:16
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Um estudo inédito sobre os crânios das catacumbas da cidade de Paris, realizado pela professora do Departamento de Medicina Social, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes, Patrícia Deps, foi destaque na revista britânica Annals of Human Biology. Intitulado Leprosy in skulls from the Paris Catacombs, o artigo relata a pesquisa da professora que estudou 1.500 crânios com o objetivo de avaliar as alterações ósseas típicas da hanseníase, doença que era conhecida no Brasil como lepra.

Clique aqui e acesse o artigo na íntegra.

Dos crânios estudados, a pesquisadora encontrou dois com deformidades características da doença. O resultado significa que pessoas da população de Paris e arredores, cujos esqueletos foram enterrados novamente nas catacumbas, podem ter sido afetadas pela hanseníase. “O número real pode ser maior, já que as alterações ósseas, geralmente, ocorrem nos casos mais graves da doença. Estimamos que 0,5% da população parisiense tinha alterações cranianas típicas causadas pela hanseníase”, afirma a professora.

Estudo

Há mais de 20 anos, a pesquisadora estuda diferentes aspectos da hanseníase e tem se dedicado aos estudos relacionados ao declínio da enfermidade na Europa no final da Idade Média. “Atualmente, a hanseníase é endêmica em mais de 100 países, e era uma doença comum na Europa até o final do século XVI, após o qual começou a declinar, eventualmente desaparecendo do continente. Há muitas perguntas a serem respondidas sobre a história da hanseníase na Europa, incluindo o quão comum era em cada século e as razões de seu desaparecimento”, explica Patrícia Deps.

Ela enfatiza ainda a importância da paleopatologia, que é uma ciência que permite conhecer a história e a evolução das doenças, para a conclusão do estudo: “Os métodos paleopatológicos devem ser aplicados ao estudo da hanseníase porque a doença deixa sinais distintos nos ossos, como alterações características no crânio”.

A pesquisa sobre os crânios das catacumbas da cidade de Paris teve como colaboradores o médico Philippe Charlier, diretor de Pesquisa do Musée Du quai Branly em Paris e coordenador do Laboratory Anthropology Archeology and Biology (LAAB) do Departamento de Ciências da Saúde da Health Sciences da Universidade de Versalhes (UVSQ); o epidemiologista Simon Collin, do Public Health England; e Sylvie Robin, curadora das Catacumbas de Paris.

Os próximos passos, conforme relata Patrícia Deps, serão os estudos das alterações realmente típicas e exclusivas da hanseníase, investigando se a presença da doença pode ser confirmada pelo ácido desoxirribonucleico (DNA), por meio das amostras de dentes e ossos. O estudo também será repetido em um número maior de crânios.

Hanseníase e estigma 

No ano passado, a professora lançou o livro O Dia em que Mudei de Nome - hanseníase e estigma (The Day I Changed My Name - Leprosy and Stigma). A obra bilíngue apresenta os resultados do projeto de extensão coordenado pela professora entre os anos de 2014 e 2017. O objetivo foi avaliar a repercussão do isolamento compulsório dos hansenianos e de suas famílias na sociedade capixaba.

A obra englobou pesquisas bibliográficas e de campo sobre a hanseníase no Espírito Santo, e incluiu entrevistas com ex-internos do Hospital Colônia Pedro Fontes, familiares, funcionários do hospital e do Educandário Alzira Bley (para onde eram levados os filhos dos doentes), freiras, padres, diretor e ex-diretores clínicos do hospital, além de contar a vida do padre Mathias Hahn e sua atividade na Colônia. 

Médica pela Ufes, com mestrado em Doenças Infecciosas e doutorado em Medicina (Dermatologia), a professora Patrícia Deps possui pós-doutorado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres/Inglaterra e na Universidade de Versalhes (UVSQ)/França. É pesquisadora convidada do Laboratoire Anthropologie, Archeologie, Biologie, of Health Sciences da França, e pesquisadora visitante honorária do Serviço de Antropologia Médica do Hôpital de Nanterre (França), do museu Catacumbas de Paris e do Musée du Quai Branly.

 

Texto: Jorge Medina
Edição: Thereza Marinho