Obras censuradas em Rondônia são tema de exposição na Biblioteca Central

20/02/2020 - 15:58  •  Atualizado 27/02/2020 20:14
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Autores e livros censurados pela Secretaria de Educação de Rondônia (Seduc) são tema da mostra Caça às Bruxas, em exposição no hall de entrada da Biblioteca Central (BC), no campus de Goiabeiras da Ufes. Com curadoria do bibliotecário da Universidade e mestre em Gestão Cultural Djair de Souza e tendo o servidor da Ufes Marcus Valério Rabello como contra-regra, a mostra fica em exibição na BC até o dia 31 de março, com entrada gratuita.

Como atividade complementar à mostra, no dia 5 de março, será realizada uma roda de leitura de trechos das obras expostas, com a participação do escritor e poeta Marconi Fonseca. O encontro acontece a partir das 18h30 no mesmo local da exposição e é aberto a todos os interessados.

Caça às Bruxas busca apresentar ao público alguns dos 43 livros paradidáticos aos quais a Seduc teria determinado o recolhimento nas escolas estaduais de Rondônia, no início de fevereiro, por considerá-los “conteúdos inadequados às crianças e adolescentes”. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis), Os Sertões (Euclides da Cunha), A Vida Como Ela É (Nelson Rodrigues) e Macunaíma (Mário de Andrade) são alguns dos clássicos que estariam na listagem das obras proibidas. A Seduc se manifestou posteriormente, alegando se tratar de uma fake news (notícia falsa).

Indignação

A proibição foi o estopim para que Souza começasse a pensar na exposição: “Fico indignado com o cerceamento da cultura em nosso país nos dias atuais. Fecham-se exposições por preconceito sexual, perseguem-se artistas de rua. Esse problema está ligado à religiosidade de alguns falsos profetas, ícones de nossa política atual, que perseguem artistas que divergem de suas ideias. O objeto de perseguição da vez foi o livro, num país de poucos leitores, onde lutamos para criar o hábito da leitura. Não só como cidadão, mas como bibliotecário, fiquei extremamente indignado”.

A mostra apresenta 16 livros que estavam no rol dos “proibidos”, mais 13 títulos de Rubem Alves, autor do qual o memorando mandava que fossem recolhidas todas as obras.

Os livros expostos podem ser consultados pelo público em geral. Estudantes e servidores que tenham vínculo ativo com a Ufes podem, ainda, retirar as obras da Biblioteca para empréstimo. “Isso, ocasionalmente, pode fazer com que o visitante sinta falta de algum título durante a exposição”, explica o curador.

“A cultura é uma forma de resgate social, que tira da marginalidade inúmeras pessoas. Perseguir a cultura é querer manter cativos nos guetos todos os que vivem à margem do que se denomina sociedade”, conclui Souza.

A exposição Caça às Bruxas fica à disposição do público de segunda a sexta-feira, das 7 às 21 horas, e aos sábados, das 7 às 13 horas. Em abril, a mostra segue para a Biblioteca do campus de São Mateus.


Texto: Adriana Damasceno
Foto: Djair de Souza
Edição: Thereza Marinho