Laboratório da Ufes é referência em análises sobre fake news

08/05/2018 - 16:58  •  Atualizado 14/05/2018 12:23
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Quando o assunto é monitoramento de redes sociais, o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Ufes (Labic) é referência. Considerado um dos mais importantes laboratórios de Ciência de Rede do mundo, o Labic foi citado em jornais e revistas nacionais e internacionais com um estudo sobre a disseminação de notícias falsas nas redes sociais, também conhecidas como “fake news”, no caso do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e de seu motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março.

Esta e outras matérias também estão disponíveis na edição 534 do jornal Informa

Segundo um dos coordenadores do Labic, Fábio Malini, repórteres do jornal O Globo perceberam que parte das postagens que associavam Marielle ao traficante Marcinho VP tinham o mesmo conteúdo. Os jornalistas desconfiaram do fato de que a notícia falsa foi replicada nas redes sociais por um conjunto de páginas diferentes, de forma coordenada. Entretanto, eles não tinham a tecnologia para fazer o mapeamento e pediram ajuda para o Labic.

“Nós produzimos um conjunto de dados, conhecido como dataset, sobre todas as postagens que associavam Marielle a alguns termos, como ‘bandido’, ‘Marcinho VP’, ‘comando vermelho’ e ‘traficante’. Descobrimos que existia uma espécie de clonagem de conteúdo feita por páginas completamente diferentes, quase que instantaneamente. No dia 16 de março, o site Ceticismo Político fez a primeira publicação às 22h 23min 47seg e o Movimento Brasil Livre (MBL) replicou a mensagem às 22h 24min 11seg. Como eles fazem essas publicações de maneira fragmentada, coordenada e simultânea, eles conseguem um impacto muito grande”, destaca Malini. A reportagem do jornal O Globo foi publicada no dia 23 de março e citada por diversos jornais e revistas do Brasil e do mundo.

Em uma semana, o conteúdo do site Ceticismo Político foi compartilhado mais de 360 mil vezes no facebook e em três dias a informação divulgada pelo site, no twitter, gerou mais de 1 milhão de impressões – número de vezes que a mensagem apareceu na linha do tempo dos usuários do microblog. Esse foi o boato de maior repercussão envolvendo a vereadora nas redes sociais.

Outro coordenador do Labic, Fábio Goveia, enfatiza que essa é uma estratégia muito utilizada, pois quem está sendo agredido não consegue se defender em todos os lugares ao mesmo tempo. “As pessoas que veem a mesma notícia falsa sendo dita por pessoas diferentes em diversos lugares, no facebook e em outras redes ao mesmo tempo, começam a acreditar que, de fato, é um elemento verdadeiro. Essa estratégia é o que potencializa e amplifica o que tem sido chamado de fake news”, alerta Goveia.

Pesquisas

A missão do Labic é a realização experimental de produtos digitais e a promoção de pesquisas e atividades de extensão sobre o impacto da cultura digital nos processos e práticas de comunicação contemporânea. Entre essas atividades está o mapeamento das redes sociais e a produção de um conjunto de dados sobre postagens, links e páginas que de alguma forma se relacionam com um determinado tema.  “Costumo dizer que nós somos historiadores do tempo real, um termômetro das redes sociais. Nossos conjuntos de dados são muito reveladores e por isso somos fonte de informação para a imprensa. Nós temos um ‘dataset’ sobre a maioria dos eventos relevantes para a sociedade dentro e fora país e, por isso, ficamos pelo menos uma hora por dia atendendo diversos veículos fornecendo essas informações”, disse Goveia.

Além de fornecer informações para a imprensa, desde 2012, o Labic vem produzindo tecnologia na área de Ciência de Dados que vem sendo utilizada em diversas instituições. No Brasil, as metodologias criadas pelo laboratório alimentam pesquisas nas Universidades Federais da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina, na Universidade de São Paulo, Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Pelo mundo, pesquisadores do México, Chile, Espanha, Inglaterra e Holanda também utilizam as tecnologias do Labic.

A pluralidade é a marca trabalho da equipe do Labic, que conta com cerca de 20 pesquisadores e bolsistas de áreas como saúde, humanidades e engenharias. Na coordenação também estão o professor do Departamento de Engenharia Elétrica Patrick Ciarelli e a professora do Departamento de Serviço Social Adriana Ilha. Para saber mais sobre o trabalho do laboratório acesse www.labic.net.


Texto e foto: Hélio Marchioni
Edição: Thereza Marinho