Acontecimentos históricos de maio de 1968 mobilizam debate na Ufes

21/05/2018 - 11:06  •  Atualizado 30/05/2018 10:50
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A partir desta terça-feira, 22, começa na Ufes o Colóquio 50 anos – Reverberações de maio de 1968 na França e no Brasil. O evento, a ser realizado até o dia 25 de maio no Cine Metrópolis, tem o objetivo de celebrar, refletir e debater os acontecimentos históricos ocorridos em maio de 1968 na Europa e no Brasil, marcados por intensas mobilizações populares, em especial por manifestações estudantis que reivindicavam melhorias na educação.

O evento é realizado pelo Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (Laburp), de pesquisa e extensão, do Departamento de Geografia, e a programação inclui sessões especiais de cinema, debates, conferências, lançamentos de livros, palestras e apresentações artísticas.

De acordo com o professor Cláudio Luiz Zanotelli, coordenador do Laburp, o objetivo é resgatar as experiências de maio de 1968, bem como refletir sobre as reverberações sociais, políticas, filosóficas, sociológicas, geográficas e históricas entre o Brasil e a França naquele período. “Buscaremos compreender ainda mais os pensamentos e as práticas daquele maio, e que estão presentes no mundo contemporâneo”, propõe Zanotelli.

Entrevista

A conferência de abertura será realizada pelo professor François Cusset, docente da Universidade de Nanterre (França), autor do livro “Filosofia Francesa: a influência de Foucault, Derrida, Deleuze & Cia” e da obra ainda inédita no Brasil “La droitisation du monde”.

Em entrevista aos jornalistas da Secretaria de Comunicação da Ufes, ele criticou a forma como os acontecimentos de maio de 1968 estão sendo relembrados na França: “O clima na França é a de uma comemoração um pouco oficial demais, entre fotos amareladas e clichês nostálgicos, o que está sendo bem aceito. Os ‘militantes veteranos’ se tornam notáveis, publicam suas memórias, desfilam nos programas de televisão como representantes autoproclamados de maio de 68, que, muitas vezes durante sua carreira, negaram ou traíram”.

Ele também destacou os principais pontos de vista relativos a maio de 68 que estão em debate, atualmente, na França: “O ponto de vista predominante entre os franceses é que maio de 1968 teria preparado a França para as culturas jovens, a música pop, a liberdade de imprensa e para uma sexualidade mais livre, removendo de sua herança a sua força política, revolucionária. Aqueles que não concordam com essa herança são os conservadores. Alguns chegam a dizer que o individualismo frenético e o consumismo neoliberal são culpa de 68! Eles acreditam que maio de 68 promoveu a decadência da moral e o relativismo dos valores e que, portanto, essa herança deveria ser liquidada. Por outro lado, e com uma visão muito diferente, estão os pouco numerosos alinhados à política revolucionária e anticapitalista de 68 e inscrevem os levantes sociais desta primavera de 2018 na linha direita de maio de 68”.

Segundo Cusset, a Universidade de Nanterre, assim como em outras instituições de ensino superior da França, se mobiliza contra uma reforma do presidente Emmanuel Macron, que impõe uma mudança no acesso ao ensino superior.

“Discutimos, ocupamos edifícios, fazemos assembleias gerais e moções de oposição. As comemorações oficiais sobre 68 aconteceram no campus da universidade em março – porque, em Nanterre, maio de 68 aconteceu em março. Felizmente essas comemorações foram rapidamente esquecidas, e muitos de nós, hoje, tentamos viver de acordo com o espírito de resistência e insubordinação de maio de 68. A luta continua!”, finaliza.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no endereço eletrônico https://goo.gl/forms/4piWxPzIOJEoVhEy2. Mais informações podem ser obtidas em coloquiomaio1968@gmail.com e em https://www.facebook.com/ColoquioMaio1968


Texto: Luiz Vital e Letícia Nassar
Edição: Thereza Marinho